Para crescer e ser competitivo no mercado internacional, o Brasil precisa investir em ciência, tecnologia e inovação. Esse foi o tom da abertura e da primeira sessão de debates do Congresso Brasileiro de Inovação da Indústria.
O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, destacou que o investimento brasileiro nessas áreas gira em torno de apenas 1% do PIB, o que destoa de outras economias do mundo, que chegam a investir 5% de suas riquezas em inovação. “Devemos construir com urgência uma visão de longo prazo em que a inovação seja prioridade e o principal vetor para inserção internacional do Brasil. As economias mais avançadas e outras emergentes já entenderam a importância da inovação”.
Robson Andrade disse, também, que cerca de 73,5% das indústrias brasileiras inovaram em 2020, o que é um dado relevante, sobretudo em meio à crise causada pela pandemia da Covid-19. No entanto, é preciso mais, na visão dele: “É preciso fazer com que a inovação seja o principal fator de modernização, competitividade e crescimento. É indispensável a construção de uma política nacional de ciência, tecnologia e inovação, que posicione o país entre as economias mais inovadoras nos próximos anos”, defende.
Sérgio Freitas de Almeida, ministro substituto da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), disse que o Governo Federal tem buscado soluções inovadoras para o país e que a pandemia fez com que o Executivo redirecionasse os investimentos em inovação para a saúde.
Segundo ele, com a autorização de mais de R$ 1 bi para pesquisa e desenvolvimento em 2020, foi possível desenvolver equipamentos e insumos necessários para o combate à Covid-19, como ventiladores mecânicos, sistemas de descontaminação e vacinas 100% nacionais. “Desde o ano passado, o MCTI está apoiando o desenvolvimento de vacinas brasileiras. Já são 15 iniciativas de instituições de pesquisa brasileiras com vacinas produzidas aqui com as melhores tecnologias”, afirma.
Caminhos para um Brasil mais inovador
Os participantes da primeira sessão do dia concordaram que a educação e a qualificação profissional serão fatores fundamentais para o crescimento do país nos próximos anos, porque é o que vai alavancar a inovação. “Se a gente não pensar nos ativos intangíveis, como educação, qualificação de mão de obra, nós não vamos chegar no ponto que o país precisa, que é desenvolvimento com muito mais igualdade de renda das pessoas e que elas se beneficiem disso”, argumentou Bruno Laskowsky, diretor do BNDES.
E é justamente o reskilling, ou seja, a capacidade de aprender novas habilidades técnicas e profissionais que será um dos desafios mais significativos para os brasileiros nessa era de inovação, apontou Tânia Cosentino, presidente da Microsoft Brasil. “Tem um estudo global que aponta que mais de 350 milhões de postos de trabalho serão eliminados com a adoção da inteligência artificial. Isso nos próximos cinco anos. A IA [Inteligência Artificial] e a adoção de outras tecnologias pode trazer uma revolução para nossa sociedade, que vai melhorar o bem estar das pessoas, a produtividade das empresas, mas se a gente não tiver capacidade de formar pessoas num curto espaço de tempo, vamos ter um enorme problema social”.
Décio da Silva, presidente do Conselho de Administração da Weg, afirmou que a introdução da inteligência artificial nas fábricas brasileiras é uma das estratégias para tornar o Brasil um país mais inovador. “Se queremos ter uma indústria têxtil, automotiva, de máquinas e equipamentos fortes, vamos precisar de máquinas sensoriadas, para ter base única de dados, vir com IA, big data, para ter processos mais controlados, informação em alta velocidade, em tempo real. Precisamos dar um salto de produtividade, senão daqui alguns anos vai ser 10%, 9% (a participação da indústria no PIB).
O protagonismo da indústria é tido como determinante para que o país seja, de fato, inovador, apontaram os painelistas. “Não é disputa entre indústria, serviços e agronegócio, mas o crescimento do bolo. A nossa população é pobre e precisamos trazer desenvolvimento econômico. A gente tem que parar de exportar só commodities e exportar cérebros e produtos de alto valor agregado. Há um estudo que mostra que se o Brasil adotar de forma massiva a inteligência artificial, poderia ter um incremento no PIB de até 4% até 2030”, projetou Tânia Consentino.
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Sustentabilidade
No congresso, os participantes também debateram a inovação como principal estratégia de sustentabilidade. Pedro Passos, membro do Conselho da Natura, disse que o Brasil perdeu oportunidades de se desenvolver no passado mesmo diante de tanto potencial.
Segundo ele, o país tem vantagens competitivas para ser protagonista na transição para a economia de baixo carbono. “Essa transição é uma ameaça, crise, mas pode ser uma grande oportunidade para que nós brasileiros possamos engatar pra essa economia de baixo carbono e resgatando através da inovação de processos, produtos e de hábitos de consumidores a indústria brasileira, que está se desfazendo”, destacou.
Malu Nachreiner, CEO da Bayer Brasil e presidente do negócio agrícola da companhia, afirmou que a empresa promove internamente debates sobre como a sustentabilidade e a inovação podem andar juntas. Para ela, é importante que as companhias se atentem para a urgência do tema.
“Isso precisa estar na agenda e na pauta de todos. Precisa fazer parte da cultura da organização para que a gente consiga avançar de maneira mais rápida e eficiente. Um objetivo muito grande é como a gente pode produzir mais com menos, ser cada mais eficiente naquele hectare de lavoura. A gente precisa se mover rápido. Muitas vezes a gente pensa no movimento clássico de inovação que leva décadas, e nós não temos décadas para poder agir”, opinou.
5G
Enquanto o 5G já é realidade em vários países, a tecnologia só deve estar disponível no Brasil, a começar pelas capitais e grandes cidades, no início do segundo semestre deste ano. Sair atrás, neste caso, não é um problema irreversível, disse Ricardo Pelegrini, CEO & Cofundador da Quantum4 Innovation Solutions.
“Isso é uma jornada, uma maratona, não é uma corrida de cem metros. A gente saiu atrasado, mas a gente pode recuperar e implementar coisas com a nossa pegada, nossa impressão digital de acordo com as nossas necessidades. O Brasil pode inovar e a gente tem que pensar quais são os nossos problemas, quais são as tecnologias e como resolver os problemas”, indicou.
Segundo os painelistas, é insuficiente dizer que o 5G é “apenas um G a mais” ou uma tecnologia que vai permitir uma conexão mais rápida à internet. Trata-se, na verdade, de uma revolução, que vai modificar para melhor a produtividade das empresas em todo o mundo.
Representante da Ericsson, Rodrigo Dienstmann explicou como a indústria vai se beneficiar do 5G. “O 5G passa a ser um tronco da inovação dentro da indústria por várias características: maior velocidade, baixa latência, densidade de dispositivos, o que vai permitir processos de automação, resiliência e sustentabilidade”.
Fonte: Brasil 61